"FALTA QUALQUER COISA"
Falta
de sorte, azar, injustiça, etc... foram, de novo(!!!), as palavras
dominantes para tentar explicar a ineficácia que a selecção voltou a
apresentar.
Os números foram avassaladores, as
oportunidades criadas também, mas no íntimo toda a gente ficou com a
sensação de que "falta ali qualquer coisa".
E é
uma percepção justificada, porque foi visível que todo esse caudal
atacante não era sólido, mas sim algo sofrido ou desgarrado, nalgumas
vezes atabalhoado e sempre inconsequente.
Isto,
afirmado assim, pode parecer um paradoxo, tal o número de oportunidades
criadas, mas se revirmos o jogo, com olhos de ver, torna-se evidente,
quase gritante:
Não obstante a qualidade
superior inquestionável da generalidade dos nossos jogadores, a nossa
equipa não tem "cola", não tem aquele "algo mais" que dá tranquilidade e
consistência a tudo aquilo que agora é feito com ansiedade e em
esforço.
E isso nota-se de forma bem evidente no meio campo,
onde tudo se joga em qualquer partida: a parte central não funciona como
devia.
O EQUÍVOCO
João
Moutinho, André Gomes, ou até Renato Sanches ou Rafa, cada uma à sua
maneira, com a sua experiência e nível de forma (ou falta dela), são
indubitavelmente jogadores de qualidade. Uns mais sólidos, outros mais
explosivos, mas não garantem a tal "cola", apenas mais individualismo.
Foi
mesmo surpreendente ver João Moutinho a ser considerado o "Melhor
Jogador" desta partida (no mínimo, desonesto para o guarda-redes
adversário!). O seu jogo foi particularmente inconsequente, talvez mesmo
a posição mais inconsequente dentro de campo em termos da tal solidez
que não existiu.
E é tão surpreendente que
convido todos a rever o jogo tomando particular atenção ao desempenho
deste jogador. Permitirá constatar a quantidade de vezes em que se
apresentou mal posicionado, escondido atrás de adversários, a optar por
movimentos do tipo "passa e esconde", de braço em riste a apontar para
que o portador da bola passasse para outro lado, sem se dar à recepção,
sem procurar o passe e o desequilíbrio, sem pulmão para pressionar alto
ou fazer mudanças na velocidade de jogo.
Foram
muito visíveis as 3 ou 4 faltas que sofreu em jogadas perigosas, que
podem ter tido a sua influência no prémio que recebeu, mas vistas
friamente, surgiram todas de situações em que Moutinho chegou um segundo
atrasado, incapaz de dar sequência aos passes "a rasgar", que pedem a
ultrapassagem do adversário e a criação de desequilíbrios efectivos e
não ganhar faltas parando o jogo.
Resumindo,
falamos de um jogador de qualidade, mas sem forma adequada às exigências
prementes da competição, sem capacidade de introduzir ou assegurar
mecanismos de entrosamento, consequência e fluidez ao nosso jogo. Já foi
assim no primeiro jogo, voltou a ser neste!
A
culpa não é sua, nem do André Gomes, nem do William (claramente o melhor
dos três!) nem dos outros, porque esse meio campo, constituído por um
somatório de "nomes" individuais, resulta numa manta de retalhos, sem o
entrosamento, a ligação e o entendimento necessários, que apenas vai
sendo disfarçado pela óbvia qualidade intrínseca de cada um.
Adicionar
qualquer jogador "avulso" a isto (João Mário, Rafa ou até Renato
Sanches), não passa de uma solução "mais do mesmo", que não resolve o
essencial, mas tão somente adiciona mais um elemento que "talvez" tenha
algum rasgo que resolva. Em termos daquilo que se quer e precisa para
termos uma verdadeira Equipa, esse caminho do "sortilégio" não serve nem
é, definitivamente, competente.
UM TODO MAIOR QUE A SOMA DAS PARTES
Qual é a solução, então?
Todos
se lembram como Scolari reagiu à derrota de entrada do Euro 2004,
colocando o "FC Porto" de Mourinho em campo, assegurando daí em diante
um nível de entrosamento da equipa que acabou por "levar tudo à frente"
até final.
Todos reconhecem que a superior qualidade de
selecções como a Espanha e a Alemanha assenta em cima da "cola"
garantida por espinhas dorsais saídas integralmente de determinada
equipa de cada um desses países.
Essas "colas", esses
entrosamentos, essa introdução de mecanismos de fluidez e solidez nessas
equipas, conferem aquele algo mais que torna essas selecções tão
capazes e consequentes.
Chega-se à selecção
nacional e... esquecemos isso tudo. Vê-se, constata-se e elogia-se em
relação aos outros, mas quando toca a nós... lá vem a mesquinhez e a
hipocrisia da clubite.
E não é entre adeptos: é entre
comentadores, supostos "experts" e toda a sorte de palradores que
infectam a opinião pública. Uns por agenda, outros por mediocridade,
outros ainda por cobardia, tentam esconder a evidência com a peneira que
lhes convém.
E porquê?
Porque essa solução não vem dum Porto dominante, como noutras alturas, nem dos actuais Donos Disto Tudo, o Benfica.
Mas está disponível e vem do Sporting, de onde foram convocados os jogadores nucleares do melhor meio campo da Liga portuguesa.
O MEIO CAMPO "DO SPORTING"
William,
Adrien e João Mário, em conjunto(!!!), jogam de olhos fechados, têm
pulmão para pressionar alto durante 90 minutos, têm mecanismos
estabilizados, com capacidade de criar os desequilíbrios necessários
para furar os mais fechados "autocarros" e servir de forma capaz os
desequilibradores da frente, soltando-os e dando-lhes produção,
introduzindo consistência, consequência, tranquilidade e foco
persistente a meio campo, necessário a oferecer um carácter
efectivamente avassalador ao desempenho geral da equipa, sem repelões,
desgarrado ou em esforço desnecessariamente sofrido, como agora.
É
imperativo que, quando é feito um passe para o espaço ou a solicitar um
movimento de ruptura, o colega esteja lá para o receber, porque já sabe
como é e está à espera exactamente disso e não a fazer qualquer outro
movimento, noutro sentido, desgarrado, como aconteceu amiúde nos dois
jogos.
E esta "espinha dorsal", este meio campo
"nuclear" é possível quer seja em 4-3-3, quer seja no 4-4-2 base de FS,
onde o trio pode ser complementado com um criativo, como André Gomes,
Quaresma ou até Rafa, a fazer de "Bryan Ruiz", tal como costumam jogar.
Isto
é tão óbvio que ontem havia muitos milhares de portugueses a
indignar-se nas redes sociais por não estar a acontecer (benfiquistas
incluidos - lampiões obviamente que não!), desesperando pelas
substituições, esperando que Fernando Santos, nalgum lampejo de
inteligência, tivesse lançado em primeiro lugar Adrien para o lugar de
Moutinho e de seguida João Mário para o lugar de André Gomes ou de algum
dos criativos, Nani ou Quaresma, colocando um "E" grande na equipa.
UM TREINADOR EM NEGAÇÃO E A CONVERSA DO COSTUME
Mas
não. Fernando Santos voltou a mexer tarde e muito mal, preferindo
manter a manta de retalhos ou até piorando-a e tornando-a ainda mais
desgarrada. Quando se esperava que fosse o elemento que tratava de
garantir a coesão e fluidez que é necessária, não só não o fez no
primeiro jogo, como não fez no início do segundo jogo, como insistiu no
erro e até o piorou com as mexidas a destempo que fez, constituindo-se
como um verdadeiro obstáculo, senão mesmo o principal, ao melhor
desempenho da selecção.
João Mário foi
efectivamente lançado para o lugar de Quaresma, mas Adrien não passou do
aquecimento. E as consequências foram óbvias: tivemos que assistir ao
sofrimento de ver mais do mesmo no geral, ou nalgumas situações JM e
William a ensaiarem as famosas e letais triangulações sem que depois
aparecesse o terceiro elemento ou vértice que permitiria furar o
autocarro e soltar uma entrada letal no corredor sobre a área, apanhando
o adversário em desequilíbrio e criando o espaço necessário a uma
finalização mais assertiva e sem ansiedade.
Não se trata de uma solução "divina" ou "garantida", como nenhuma é, mas apenas de uma opção pela competência.
Os
espanhóis já o perceberam há muito tempo e, desde que apostaram nisso,
nunca mais largaram, e os alemães nem pestanejam em adoptar esse
princípio, tal é a sua obsessão e intransigência com a questão
organizativa e estrutural. Em ambos os casos assistimos a "todos que são
mais que as partes, constituindo verdadeiras equipas, entrosadas e
oleadas e com os resultados que estão à vista: entre os dois, estão os
vencedores de todos os títulos mais recentes!
Mas
por cá, "aqui d'el Rei", que são o meio campo do Sporting, ou melhor,
não são o meio campo do benfica, por isso... nem pensar.
E não
faltarão as conhecidas verborreias retóricas do nacional-lampionismo, a
atirar-se à forma para tentar negar o conteúdo - "Ah, e tal, os
espanhóis assentam no Barça e os alemães no Bayern e o Sporting não é um
nem outro", etc - sabendo nós qual seria o "argumento" se a coisa fosse
ao contrário e se tratasse do meio campo do Benfica!
Agrava
que Fernando Santos não o percebeu, nem acredito que vá perceber. O seu
perfil técnico-burocrata e a sua susceptibilidade a certos interesses e
pressões que rondam a selecção (foi, suspeito, também por isto que lá
foi colocado), não o vai permitir.
Vai persistir no mesmo
erro, ajudado pelo facto de se poder agarrar a estatísticas que, de tão
avassaladoras permitem ocultar o quão enganosas são, e esconder-se atrás
das imensas costas largas de Ronaldo que, pela sua projecção mediática,
será sempre o alvo de todas as críticas, mais ou menos invejosas ou
ignorantes.
COSTAS DEMASIADO LARGAS
De facto, CR7 está a pagar, pela crítica, algo que não é da sua responsabilidade, da sua decisão ou sequer da sua incompetência.
Falhou um penalti? Falhou. Esteve no seu melhor? Não.
Mas
tentou tudo, não obstante de estar numa equipa com desempenho
desgarrado e em permanente esforço, em posições e dinâmicas onde não
rende e pode ser "abafado" com relativa facilidade, decorrentes da
mediocridade de um treinador sem unhas para uma equipa destas e um
jogador destes.
Indigna-se muita gente que CR7
joga melhor no Real do que na selecção. Pois é. Mas convém tentar
perceber porque é que o anterior Paulo Bento ou o actual Fernando
Santos, nem nos seus sonhos mais molhados, alguma vez seriam treinadores
de uma equipa desse nível.
A selecção e as suas sucessivas "gerações" tem pago bem caro por isso!
À FALTA DE MELHOR... VENHA A "SORTE"
Com
o choradinho cego do "nacional-lampionismo" a exigir a inclusão de
Renato Sanches, preferindo o orgulho de ter um dos "seus" a jogar do que
ver uma equipa entrosada, oleada, mandona, consequente, sólida e
eficaz;
com a pressão latente do "Mendismo", interessado mais
em negócios e lucros individuais, do que na felicidade de um povo; e com
a incapacidade por demais evidente do próprio treinador para se impor a
isso tudo, mas também de ele próprio perceber o problema e a solução a
adoptar, antes constituindo-se como mais um obstáculo de monta ao
desempenho da própria equipa (como ficou patente ontem!!!), resta
esperar pelo 3º jogo e rezar pelo sortilégio "avulso":
Que
haja algum rasgo de excelência de algum jogador, que alguma das bolas
sofridas e em esforço acabe por entrar, que a equipa, no fim, consiga
superar a inconsistência que é assegurada... pelo o próprio treinador.
O FADO
Foi assim no passado e parece que vai continuar a ser agora. É o "fado" do seleccionador, acompanhado à guitarra e à viola pela FPF. Pode
ser pitoresco assistir hoje a "antigas glórias" a "já" poderem contar
as pressões que houve noutras campanhas para introdução de jogadores
"avulso", por serem da equipa A ou da equipa B. Mas, na verdade, isso
não passa de um atestado de incompetência patética aos seleccionadores e
à FPF que, pelos vistos, continuam na mesma! Assim vai o nosso triste
futebol.
Deixemos, por isso, a calculadora de uma vez por todas, porque a equação é bem simples:
Na quarta-feira, a selecção vai ter que superar e derrotar Fernando Santos... se quiser ganhar à Hungria e seguir em frente.
Melhorias? Uma Equipa? Vai continuar a não haver!